A credibilidade dos parlamentares e das instituições governamentais, diante dos recentes escândalos de corrupção, parece estar no fundo do poço. Prova disso é o crescente aumento da desconfiança da população nas autoridades brasileiras. Desde 1993, a porcentagem de pessoas que não confiam nos políticos vem crescendo. Naquele ano, 82% da população não acreditavam; em 1999, mais de 85% e em 2005, cerca de 87% não confiavam na classe política. Em 2005, mais de 70% não acreditavam no Senado e na Câmara. No ano passado, este número subiu para 80,7% e 83,1% respectivamente. Os dados correspondem a duas pesquisas, uma do Ibope, que aborda a evolução dos números, e outra realizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), com as informações de 2007. Mesmo com a crença da população em relação à política estando abalada, o estudo da AMB/UnB mostra que cerca de 90% acha que a corrupção pode ser combatida, sendo a Polícia Federal (PF), o Ministério Público (MP) e a sociedade civil as instituições mais relevantes nesse combate. Entre os órgãos mais confiáveis, estão a PF, as Forças Armadas e o Juizado de Pequenas Causas. O governo federal também não foi poupado pelos entrevistados na sondagem. Cerca de 54% das pessoas admitiram não confiar na atuação do Executivo. A grande maioria das pessoas declarou já ter ouvido falar do TCU e da CGU. Mas a maioria não conhece os trabalhos desenvolvidos pelos dois órgãos. Mais da metade (51%) da população não sabe a diferença entre Ministério Público e Poder Judiciário. A pesquisa abordou ainda o sistema eleitoral do país. A maioria esmagadora (95%) acredita que a reforma política é fundamental, sendo que 79,8% das pessoas discordam do foro privilegiado a que têm direito presidente da república e seu vice, ministros de estado e de tribunais e parlamentares. Mais de 90% consideram que um político processado na Justiça não pode concorrer às eleições e 91% acreditam que a Justiça não pune com rigor os políticos. Na sondagem, foram entrevistadas mais de duas mil pessoas em todo o país na faixa etária entre 25 e 34 anos. O estudo foi orientado pelo coordenador de graduação do Instituto de Ciência Política da UnB e professor de Teoria da Corrupção, Ricardo Caldas. Ele afirma que o sistema político brasileiro chegou ao limite. Segundo o professor, como o formato da política é tolerante à corrupção, a tendência é aumentar o crime. Porém, Caldas diz que a política não corrompe a pessoa. Para ele, o poder é a principal causa do problema. “Quanto maior o orçamento de uma instituição, maior é a probabilidade de haver corrupção. A pessoa tende a ser mais corrupta onde há mais recursos”, acredita. Caldas diz que a população, diante de tantos casos de corrupção, já tem a mentalidade de que tudo é possível e que todo mundo se dá bem com o esquema ilícito. “As pessoas têm a idéia de que os políticos são corruptos. No entanto, a maioria delas desconhece os órgãos responsáveis pelo combate ao crime. Elas não sabem quais são as instituições e muito menos o que fazem. Portanto, não têm noção de para quem recorrer. Isso reforça a impunidade”, afirma. Segundo Caldas, o aumento da corrupção traz o crescimento da impunidade e forma um ciclo vicioso. O professor ressalta ainda que os prejuízos originados da corrupção geram ao país enormes perdas, tanto na área econômica quanto na social. “O ato ilegal faz com que o Produto Interno Bruto (PIB) sofra uma redução. A destruição da ética e da moral também desestimula os representantes da sociedade civil”.
Fonte: Contas Abertas
Imagem: Pérolas Políticas
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