terça-feira, 6 de janeiro de 2009
O uso político das Forças Armadas...
Sai ano e entra ano, alguns setores da sociedade, desiludidos com os rumos da política brasileira, clamam pelo retorno das forças armadas ao poder numa tentativa de moralizar e conter o avanço da esquerda festiva sobre nossas desacreditadas e combalidas instituições... Lamento, mas é tarde demais.
Não se faz mais militar ingênuo como antigamente.
No interessante livro que empresta o título a este artigo, o autor João Rodrigues Arruda fala da encenação de permanente estado de vigília dos civis e as periódicas insinuações de que certos limites não devem ser ultrapassados, sob pena de provocar a reação dos militares, servem muito bem como camuflagem. Os militares, apesar de habilidosos na arte da guerra, acreditam – ou fingem acreditar – naquilo que os políticos lhes exibem como real... É notável o poder de sedução dos políticos – psicólogos experientes, com o faro das fraquezas humanas – sobre os militares.
O autor cita Tobias Monteiro que define isso como a “exploração do elemento militar pela velhacaria política”.
O balanço aponta que o ativo é sempre creditado aos civis, enquanto as Forças Armadas ficam com o passivo, pois no fim das contas alguém tem que ser responsabilizado por botar a mão na massa.
Segundo o autor, é possível identificar, em anos mais recentes, uma tendência de mudança na atuação política das Forças Armadas, muito embora as vivandeiras (mulher que vende mantimentos, ou os leva, acompanhando as tropas em marcha) nunca tenham deixado de prosseguir na ronda aos quartéis... Conta o brigadeiro Sócrates Monteiro, ex-ministro da Aeronáutica no governo Collor, que ele e o ministro Mario César Flores, da Marinha, juntamente com Carlos Tinoco, do Exército, foram procurados por um personagem muito conhecido nos bastidores políticos da época, com uma conversa estranha... Discutiu inclusive, a conveniência do afastamento do presidente pelos militares, da posse do vice-presidente... Não houve uma proposta concreta, mas, no fundo, ficou a suspeita de que havia alguma intenção não muito pura... Em outro caso, o ex-ministro da marinha relata que foi procurado em casa pela ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello, ainda em 1991, tendo ela se queixado da dificuldade de relacionamento com o Congresso. “Fiquei preocupado, mas observei-lhe tratar-se de assunto fora de minha alçada”.
César Flores teria sido procurado tambem por Ulysses Guimarães. O deputado lhe disse que não tinha certeza se a Câmara aprovaria a autorização para o Senado iniciar o processo de impeachment, e quis saber como ficaria a situação.
- O presidente continua presidente – Respondeu o ministro César Flores.
- E o povo, como fica? – Insistiu Ulysses.
Ao que Flores respondeu: “Quem representa o povo são os deputados, e se os deputados acham que não devem conceder a licença, não me cabe nada a respeito”.
Olho nas vivandeiras para que não sejamos chamados a pagar a conta novamente.
Quem pariu Mateus, que o embale.
Para ler mais:
O uso político das forças armadas.
João Rodrigues Arruda.
Rio de Janeiro, 2007.
Mauad X.
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